quarta-feira, 9 de março de 2011

Viva o carnaval!

O carnaval acabou, pelo menos mais aqui para o sul. Foi um carnaval com um clima horrendo, inacreditavelmente chuva e FRIO em pleno verão! Estou escrevendo entre uma tosse e um espirro, presentes desse clima horroroso! Ainda bem que esse tipo de virus não passa via internet :-)
Falando das escolas de samba, primeiro não posso deixar de lamentar o que os prefeitos das últimas duas décadas, um pior que o outro, fizeram com o carnaval da minha terra, Santos. Era o segundo carnaval do Brasil, só atrás do RJ. Escolas de samba com 5 mil componentes desfilavam em uma festa popular e turística. Só para se ter uma idéia, a X9 Paulistana tem esse nome porque se inspirou em uma grande escola chamada X9, de Santos.
Mas falando em alguns dos homenageados: no RJ, a homenagem ao Roberto Carlos foi prá lá de merecida. Quem tem 20 ou 30 anos talvez não tenha a dimensão desse senhor: o que ele fez a partir dos anos 80 realmente não é algo memorável. Mas a revolução que ele liderou com a Jovem Guarda na década de 60 e seu auge criativo da década de 70 são coisas para se conhecer. Os intelectuais adoram dizer que a bossa nova é MPB, mas a bossa nova sempre foi uma coisa de uma pequena elite, que fez muito mais sucesso no exterior que aqui: o que o povão ouvia na década de 60 era Jovem Guarda.
Em São Paulo, duas homenagens para se louvar. A primeira é do Renato Aragão. Novamente, quem tem até uns 25 anos talvez não tenha noção do que foram os trapalhões. Para mim, o quarteto Didi, Dedé, Mussum e Zacarias foi o que houve de melhor no humor brasileiro de todos os tempos. Didi é a cultura brasileira em estado bruto, o nordestino pobre, mas esperto, sem aquela coisa ridícula de losers e winners dos estado-unidenses. Os outros três completavam bem a turma, cada um representando um perfil brasileiro: o paulista do circo, o carioca sambista e o mineirinho inocente. Para quem não sabe, Dedé foi realmente de circo e Mussum era um sambista de primeira (grupo Originais do Samba) antes de se juntar aos Trapalhões. O humor deles era simples, fácil, sem pretensões educativas e sem ranso preconceituoso ou politicamente correto. Quatro amigos, brasileiríssimos, que conviviam, brigavam e faziam as crianças sorrir, todo domingo das 19 as 20hs (hora sagrada para qualquer criança nas décadas de 70 e 80) e todas as férias com o melhor filme infantil brasileiro no cinema.
Por fim, o vencedor de São Paulo, o maestro João Carlos Martins na Vai-Vai. Já é muito bom ver uma das escolas mais tradicionais de SP vencer. Mas ainda melhor ao homenagear em vida um exemplo de pessoa. Quantas pessoas eu conheço que tem quase tudo, mas justificam sua inação ou tristeza da vida por uma dor no dedo minguinho do pé esquerdo ou por não ter tido oportunidades de fazer datilografia na infância. O maestro teria todas as desculpas do mundo para ser alguém recluso, deprimido: um pianista de primeira perder os movimentos dos dedos nas mãos é algo trágico. Mas ele entendeu que a vida é única e não dá para desperdiçá-la. Mudou os planos, mudou os sonhos, e fez algo ainda melhor para ele e para o mundo. Teve a capacidade de se reinventar várias vezes e continua sendo alguém claramente feliz. É como eu sempre digo: "quem quer faz, quem não quer arranja desculpas". Ele preferiu não arranjar desculpas. E está de parabéns por isso! E a Vai-Vai por ter divulgado esse exemplo de vida.

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