Orlando era uma região encharcada inútil no sul dos EUA. Hoje, é uma das maiores fontes de renda e emprego de toda a Flórida. Existem lá dezenas de parques, sendo cinco ou seis da Disney, mas também da Universal, Wet'n Wild, e várias outras grifes, além de parques menores. Entre os parques, centenas de hotéis para todos os gostos e bolsos. E entre os hotéis e os parques, shoppings, restaurantes e todos os tipos de comércio que se pode imaginar. Disney e Universal construíram, em frente aos seus parques, um "bairro" com o que há de mais típico nos EUA de restaurantes, baladas, etc.
Cancun é uma cidade no México que se tornou um dos maiores polos turísticos do mundo, sem perder suas belezas naturais e explorando sua cultura ancestral. O mar de Cancun é de uma beleza estonteante, como o luar. O clima, quase sempre quente (mas sujeito a furacões). E naquela região foram construídas dezenas de hotéis, para todos os tipos de interesse e de dispêndio planejados. Em todo hotel certamente se encontrará pimenta, tacos, guacamole, fajitas, marguerita, tequila e um grupo de mariachis. Em todo hotel se encontra passeios às várias e interessantíssimas ruínas maias e aos parques ecológicos inigualáveis XCaret e Xel-Há. Perto da zona hoteleira, no mercado municipal, há muita coisa típica, inclusive as calaveras de açúcar, tão típicas desse povo que festeja o dia dos mortos. E na região dos hotéis ainda há shopping, restaurantes e baladas.
Ao lado de Fortaleza tem uma região chamada Praia das Dunas. O mar é lindo, a água clara, o clima delicioso, com calor e brisa o ano inteiro. Lá se construiu o maior parque aquático do país. E o parque realmente é fantástico, com brinquedos incríveis. Mas parece-me que os donos do parque não buscam aprender com outras regiões que já deram certo. Ao invés de entender que eles só tem a ganhar com o desenvolvimento da região onde estão, fica claro que a ação típica do parque é aquela coisa mesquinha de querer tudo só para si. Mas essa mesquinhez é burra, porque se vira contra eles mesmos.
Todos que foram voltariam à Orlando: há sempre um parque novo a se conhecer, pode-se ficar em um hotel diferente e consegue-se passar um bom tempo lá com custos muito baixos de hotel e alimentação. Mas, lógico, quem vai à Orlando, mesmo sendo a N-ésima vez, vai acabar dando um pulo em um parque da Disney. Ou seja, a Disney consegue com a "concorrência" tornar mais plausível para todos voltar lá de vez em quando. E quem está em Orlando tem a sua disposição tudo do mais típico EUA.
Ir em Cancun também é uma ótima pedida. Ficar em um dos vários hotéis all-inclusive, com preços convidativos. Ou ficar em um hotel mais simples, se for para ficar visitando parques e ruínas ao longo do dia. Enquanto estamos por lá, temos uma imersão em tradições e cultura mexicana e aprendemos muito sobre a grande civilização Maia. E os parques em volta sempre tem algo diferente para ser desfrutado. Dá para aproveitar, sempre de forma diferente, visitas anuais à Cancun.
Mas o tal parque de Praia das Dunas atua para não deixar ninguém mais na região se desenvolver. É surpreendente ver que só tem asfalto até a chegada do parque. Todo o resto do bairro ou tem ruas de terra, ou com um calçamento de pedra muito irregular. O parque não se dá ao trabalho nem de oferecer uma calçada para quem caminha na rua ao lado. Me assustei ao ver o "transporte público" da cidade: vans que carregam uma quantidade de pessoas em pé de forma totalmente inadequada e sem um mínimo de conforto. É de estranhar como um pequeno município, com um parque daquele tamanho, não consegue cobrar impostos que possam dar uma vida menos ruim para seus moradores.
O ingresso para o parque são absurdos R$ 180 e os preços dentro do parque não são caros, são um assalto: almoço por mais de R$ 80 por quilo, trio de sanduíche por mais de R$ 30, um churros por R$ 8 e um boné por R$ 45: preços fora da realidade não só para nós, brasileiros, mas também para os turistas estrangeiros, que tem opções muito mais baratas para visitar em outros países. O parque fica em frente ao mar, mas não há nenhuma opção de barracas na areia: pelo que soubemos, o
parque "deu um jeito" de levar a única barraca para uma distância de
1km: afinal, ele não quer concorrência para seu bar de praia que cobra
absurdos R$ 85 por um prato de carne seca para duas pessoas em porção
não muito farta (sem incluir bebida e 10% do garçom). Também não há vendedores ambulantes na areia: segundo um vendedor do próprio parque, eles mantém seguranças na praia para evitar que os camelôs entrem na faixa de areia em frente ao parque e aos hotéis do mesmo grupo: não me parece lícito que um parque privado controle quem possa entrar ou não em uma área pública como a praia. Os bugueiros, típicos da região, que não apenas ganham dinheiro com seus passeios, mas também acabam ajudando a sustentar pessoas em várias atividades, como rendeiras, jangadeiros, etc., estão restritos a atuar em uma pequena barraca na entrada para o trecho onde o parque mantém algumas lojas e parece que o parque não aceita que eles deixem as pessoas almoçar em restaurantes fora do parque. E a prefeitura, joga junto com o parque, sempre dificultando as licenças desses profissionais. As rendeiras do município, com ótimo e tão típico trabalho, não tem um lugar minimamente adequado para trabalhar e oferecer seus produtos: já tiveram mas a prefeitura fez o favor de demolir e prejudicá-las.
Ao invés de valorizar a cultura da região, o parque ignora completamente o estado onde fica, tão rico em cultura que tanto poderia interessar aos turistas. Não há nada de Ceará nos brinquedos ou decorações. Em um cantinho fora do parque há um "Museu da Jangada", constrangedor de tão simplório e nada destacado, museu com menor destaque que um casal de gorilas de metal: ninguém conseguiu me explicar porque um casal de gorilas em um parque aquático em frente à praia no Ceará. E há dois shows no parque: um de piratas e outro de bichos com um hipopótamo: lamentável a falta de valorização da região.
Em resumo, os moradores do município ganham muito pouco com os turistas que nele ingressam. E o parque, tentando trazer todos os ganhos para si, eliminando qualquer tipo de concorrência e não valorizando a cultura da região, não vê que assim elimina também a vontade de voltar de muitos que lá vão. Eu mesmo, embora tenha gostado do parque, da praia e do clima, não pretendo voltar. Pois seria uma experiência muito mais rica ir em um parque aquático, poder escolher o que comer em inúmeras barraquinhas em frente a praia, ter uma feirinha de artesanato em frente com as artesãs mostrando como é feito o seu trabalho, muita oferta de bugues para todas as belíssimas praias ao redor e outras opções de parques e restaurantes nas redondezas. Fica enjoativo, chato mesmo, ir para um lugar que só tem uma única opção de diversão. E, além disso, é absurdamente caro ir ao parque todo dia e comer por lá, muitíssimo mais caro do que em Orlando ou Cancun. E estadia no Brasil também está algumas vezes mais caro que nesses lugares...
Há empresários que entendem que só vão conseguir se desenvolver de verdade se a comunidade em volta se desenvolver junto. Mas há os típicos empresários do nordeste, aqueles que controlam o congresso e fazem o Brasil ir para trás, que acham que para se manter ricos precisam explorar os mais pobres e mantê-los dependentes. E tudo indica que os donos desse parque são desse último tipo. É pena, porque se eles olhassem a coisa de forma mais ampla, entenderiam que eles ganhariam mais se ajudassem a região a se desenvolver também. Essa miopia faz o parque perder dinheiro, a cidade perder dinheiro e seus cidadãos se manterem em um nível de pobreza não aceitável para um lugar com um parque tão rico. E é esse tipo de gente que controla o Brasil até hoje, infelizmente...
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