quarta-feira, 18 de maio de 2011

watashi wa nihonjin desu

(eu sou japonês)

Esta história começou há quarenta anos atrás, em uma maternidade. Uma amiga viu o nenê e disse: "seu marido vai te matar, teu filho é japonês". O nenê era eu, sem nenhum sangue japa na veia, mas já prevendo minha história.
Sou de Santos e lá tem muito japonês. Em especial na feira, onde meu pai trabalhava. Em uma das fotos mais famosas do meu pai, ele está em meio a vários japas, e até dá para confundi-lo com um...
Meu interesse pelo oriente floresceu na oitava série, com a Andréa. Eu babava naquela japinha. Mas eu era totalmente travado e foi quase que um amor platônico (o máximo que consegui na época foi a chamar para dançar juntinhos em um bailinho na casa dela).
No nível médio, o Paulo Ota era um dos meus melhores amigos. Ele me fez a cabeça de fazer a UNICAMP. E me colocou nesse mundo ainda mais cheio de japas...
Na primeira semana de UNICAMP já me interessei por outra japinha. Ela teria sido minha primeira namorada, mas como eu continuava travado, consegui no máximo dar um selinho nela ao deixá-la na rodoviária. E nunca mais consegui coragem de me aproximar. Um veterano foi mais esperto que eu...
Foi nesse semestre que me aproximei da Lilian, a japinha que me adotou na facu, como irmã mais velha. Se não fosse ela, não sei se teria aguentado todo aquele desafio de enfrentar uma terra estranha, com professores malvados e as saudades de Santos. Minha irmãzinha "adotada", de olhos puxados, até hoje não deixa de cuidar do seu irmãozinho aqui. Ela me cutuca tanto no facebook que já estou com o braço roxo :-) 
Já no meio do primeiro ano da facu, gastei toda a minha lábia tentando conquistar uma outra bela japinha. Eu achei que iria conseguir, mas aí veio as férias e a maldita greve da facu, e outro japa, o Thomas, a roubou de mim. Thomas que hoje, junto com o Keeper (mais um japa), são as pessoas com quem mais falo no Facebook.
Foram 5 anos estudando na facu com uma dezena de japas na sala. E na panelinha mais próxima, os Top Cats, éramos 5, dois com ascedência nipônica (Vax e Batatinha).
No meu grupo da pós, tinham vários japas. E no NIED, a maioria dos meus colegas de mestrado e doutorado eram ocidentais, mas namoravam ou eram casados com japinhas. 
No CPqD, onde passei grande parte da minha carreira, meus dois melhores chefes foram a Sônia e o Mário, japas.
E, hoje, oriento dois alunos de iniciação científica, ocidentais. Mas os dois namoram com japinhas!
Meu primeiro sócio na consultoria foi um japa. Ele saiu e o substituiu, adivinha, uma japinha.
Não tinha como ser diferente, né? Já no último ano da facu comecei a namorar uma japinha, que me acompanha e me aguenta até hoje. E foi com ela que ganhei uma família de japas, com sogros, sobrinhos e cunhados japas. E que eu coloquei mais três japinhas no mundo.
Admiro muito várias facetas da cultura nipônica. A seriedade, a responsabilidade, a noção de comunidade que suplanta o individualismo, a forte noção de família, a religião que coloca o humano como responsável pela sua vida, seu sucesso, etc. E, claro, o valor que eles dão para educação: os brasileiros de um modo geral teriam muito a ganhar aprendendo isso com eles. Eles são uma minoria absoluta da população, mas a maioria nas boas universidades, e não por cotas ou por condição financeira privilegiada: mas porque estudam MUITO para conseguir chegar lá. Minha própria esposa, filha de um dono de sítio do interior pobre do RJ, mostra como isso é verdade.
Mas, por toda a história acima, não tenho como negar: apesar do sangue 87,5% português e 12,5% espanhol, "eu sou japonês".
Eu sendo japa

3 comentários:

  1. Hahaha Ótimo texto, Marcos, como sempre.

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  2. Gostaria de saber qual método/motivação que faz os japonese em vários casos atingirem um grau de excelência tão maior que os demais...será que só Lean resolve ?

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  3. Biozit: depende em qual área você está dizendo. Na área de ensino temos mais japas nas facus porque as famílias japonesas dão muito valor ao ensino e cobram sucesso de seus filhos nisso. Eles tem sucesso porque estudam muito e seriamente.
    Nas empresas, o Lean funcionou sempre muito melhor lá. E isso se deve a cultura oriental, pouco individualista, voltada para o grupo. Mesmo com treinamentos, não será fácil fazer ocidentais lutar tanto por suas empresas como o japoneses. Porque ocidentais não as vêem como "suas empresas", mas de uma forma rigorosamente profissional. Ensinando Lean fica claro isso: a teoria é bonita, mas não é fácil implementá-la em um país com cultura individualista. Por isso Lean nunca deu certo nos EUA, por exemplo. Mas isso é mais tema para meu outro blog, Qualidade e Gestão: www.auctus.com.br/blog

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