Quando prestava o vestibular para a UNICAMP me fiz uma promessa: se a vida me desse a chance de satisfazer esse sonho, eu daria às pessoas mais pobres da sociedade um panetone no fim do ano para terem um dia de natal um pouco mais feliz. E fiz isso por dois ou três anos: sempre no fim do ano, ao voltar para minha querida Santos, eu comprava algumas dúzias de panetones genéricos (afinal, era estagiário) e saía distribuindo os panetones para a população de rua.
Em um primeiro momento achava que eu estaria fazendo o bem para eles. Mas descobri, ao final, que eles é que me faziam muito bem. E se há duas décadas não faço mais isso, quero muito voltar a ajudar quem mais precisa. Só não posso deixar o tempo passar demais...
Lembro como se fosse hoje que eu pegava meu fusquinha, enchia com os panetones e ia para regiões onde os moradores de rua mais se acumulavam, perto do mercadão e do porto. Muitos familiares achavam que aquilo era perigoso, mas jamais sofri qualquer tipo de violência interagindo com aqueles seres humanos em situação tão desfavorável.
Em uma das vezes, vi três homens, muito bêbados, carrinheiros, brigando e xingando um ao outro, com a garrafa em punho. Me aproximei, com três panetones, os chamei e expliquei a minha intenção. A resposta de um deles foi um choque muito grande: "moço, nós somos amigos, não precisa deixar três, nós dividimos um. Dê os outros para quem estiver precisando mais". Caramba, pensei eu, precisando mais que eles, que não tem casa e que carregam carrinhos pela rua como animais para sobreviver? Quanta gente com carro importado acha que merecia mais da vida! Já aqueles pobres bêbados ali me mostraram o que é realmente ser humano. E voltei eu com dois panetones ao meu fusquinha, percebendo que eu jamais seria tão digno quanto os três bêbados...
Em outra oportunidade, vi embaixo de uma grande marquise, dois grupos: três homens e uma família de pai, mãe e criança. Peguei seis panetones, uma para cada, e me dirigi primeiro aos homens. Falei com eles e novamente uma lição: moço, não precisamos mais que um, dê os outros para eles, eles têm um filho e precisam muito mais que nós.
Fala a verdade, não foram lições inesquecíveis? Aqueles panetones me deram o melhor curso que eu já fiz na vida...
E vendo hoje várias notícias de riquinhos idiotas maltratando pessoas de rua, fico imaginando a que ponto chegamos: uma sociedade que acha que dinheiro é mais importante que dignidade, onde ser rico justifica maltratar, atirar, bater ou queimar alguém da base da pirâmide é uma sociedade muito doente! Certamente, esses jovens mimados, são seres desprezíveis que jamais chegaram a um porcento da inteligência e da decência dos Seres Humanos com os quais interagi nas minhas andanças por Santos.
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