quarta-feira, 7 de março de 2012

Homenagem à um tiozão gente finíssima

Ele foi o tio mais presente de toda a minha infância. Sempre alegre, irreverente.
Conta a lenda que de pequeno fugia da aula para jogar bola na praia. E por isso acabou abandonando os estudos mais cedo. Mas depois da maturidade chegar, resolveu seguir em frente e conseguiu seu sonho de ser advogado.
Lembro dele dirigindo com os pés para fora da janela do carro cheio de sobrinhos bem pequenos. Acho que era na Avenida Portuária, chutaria que em época de carnaval, e se não me engano era um carro baixinho (tentei achar na web e talvez fosse um TL). Era uma loucura que quase matou minha mãe do coração, quando contamos, mas que ficou para sempre gravada na memória: basta falar que o acontecido acima foi quando eu tinha uns 7 anos, ou seja, há várias décadas atrás, mas nunca esqueci.
Sempre que o encontrávamos ele dava balinhas, mas quem mordesse não ganhava mais, pois estragava os dentes. Sempre esse balançar entre carinho e responsabilidade...
O armário de solteiro dele era interessantíssimo, em especial para os meninos da família: tinha duas bonequinhas inocentes que beijavam na boca (será que ainda existem? adoraria revê-las), mas também tinha outras fotos, bem menos inocentes, que todos meninos adoravam olhar :-O .
Quando eu era pequeno, lembro de ele colocar meus pés sobre os pés dele e andar, em um malabarismo divertidíssimo.  E também lembro de ele molhar a mão, chegar nas nossas costas e fingir espirrar, abanando a mão molhada e deixando a todos enojados.Eram coisas tão legais que repito hoje com minhas filhas. 
Sempre foi um tio pentelho, sempre com aquelas piadas para perturbar, como a que faziam comigodia após dia por causa de eu não ter um dos sobrenomes do meu pai... Mas aprendi com isso que não se deve levar as coisas tão a sério...
Ele sempre foi o esportista da família. Certamente eu seria muito mais parado e gordo se não fosse ele me criar o gosto por esportes. Ele me fazia andar do Marapé até a Vila Margarida em Santos, deve dar uns 10km, descalço, pois homem não podia ter um pé tão "molinho", tinha que criar aquele cascão "de macho" na sola (na verdade criou uma baita bolha). Em outras oportunidades, me fez subir por todos os morros da cidade, em lugares que eu nunca teria conhecido se não fosse ele. Também me levou ainda mais longe, quando fomos pedalar até Praia Grande (estimo uns 25km de casa), onde moravam outros primos. Em uma dessas viagens, viajando à noite em um local onde hoje fica um shopping mas na época era apenas estrada, mato e nenhuma iluminação, consegui o feito de bater roda com roda com outra bicicleta que vinha na direção oposta: caí na estrada (ainda bem que não vinha carro na hora) e estourou o pneu. Tivemos que vir a pé um grande trecho, muitos km, carregando as bicicletas e depois conseguimos carona na carroceria de um caminhoneiro bondoso. Mas ele nunca perdia o humor e fazia piada até daquela situação.
Também me fez fazer muitos esportes, de pequeno até o último ano em que fiquei em Santos, quando fazia Karatê com ele.Foi esse o momento em que eu tive o melhor preparo físico da vida e muito deveu-se ao incentivo desse tio que sempre adorou esportes.
Ok, ok, o gosto futebolístico dele não é perfeito, pois não torce para o Santos. Acho que talvez tenha resolvido ser diferente justamente por gostar de ser pentelho, provocando aos outros santistas da família. E o gosto político prefiro nem comentar, pois este foi o único ponto que me fez ter algumas "brigas" com meu querido tio, mas que sempre foram discussões pontuais, pois jamais conseguiria ficar bravo com um tio que me deu tanta felicidade quando eu era criança.
A maior parte do que eu sou eu devo à minha família. E meu tio estará sempre comigo, nas minhas boas memórias da infância e em um modelo do que um adulto pode ser para uma criança: não um cara certinho, chato, politicamente correto, mas uma pessoa cheia de alegria, irreverência e que nos mostra que as vezes ousar e ser louco é muito legal. 
Valeu mesmo, tio!


PS. hoje soube de uma notícia muito triste, que se for verdade vai acabar com um local que está muito ligado à momentos de grande felicidade da minha adolescência e ao meu tiozão: será verdade que vão fechar o Playcenter? Tiozão organizou algumas excursões até lá, foram provavelmente alguns dos dias mais felizes de toda minha adolescência...


PS2. Lembrei de uma outra passagem interessante na minha vida, graças ao meu tio: fiz caratê com ele, como disse acima. E tive um momento de muito aperto financeiro, no início do meu curso de graduação. E foi meu tiozão que conseguiu naquela época um bico para eu trabalhar como segurança em um show da Xuxa, na Vila Belmiro, com o argumento que eu lutava caratê. Nunca fui do tipo físico esperado para um segurança de show, mas aquele dinheirinho foi de muita ajuda. Além do mais, foi a única vez que vi a Xuxa ao vivo, e embora não seja fã incondicional da loirinha, indo ao show não há como se negar que ela é absurdamente carismática. Mas, sinceramente, nos poucos momentos que consegui olhar para o palco, pois o foco era segurar o povão no gramado a uma distância segura do palco, o que mais me impressionou mesmo foram as lindíssimas, perfeitas e inesquecíveis coxas das paquitas: eram de tirar o fôlego!



Um momento de irreverência do meu tio gravado lá no final dos anos 70 


Veja também:
9 X 70! Dois números incríveis e um enorme parabéns
Boas memórias de natal
Minha eterna companheira de aventuras
À minha mãe e 61 piscadas
Um simples português
É duro ser pai: uma homenagem a nós

3 comentários: