Certamente, algumas pessoas que pouco me conhecem, de verdade, vão achar muito estranho eu homenagear Roberto Leal. Não sabem elas que eu, como filho de português, por parte de pai, e bisneto de três portugueses (e uma espanhola) por parte de mãe, sou de uma família com forte cultura e tradições portuguesas, de imigração razoavelmente "recente", dado que toda minha origem veio pobre da península Ibérica já no século XX.
Quem tem menos que 40 anos, não tem ideia de como o Brasil mudou. A imigração portuguesa foi muito forte ao longo de todo o século XX. Não é a toa que boa parte dos comerciantes, em especial de padarias, restaurantes e feiras (o caso do meu pai) eram portugueses (realmente portugueses, nascidos na terrinha, não descendentes). E dada a grande quantidade de portugueses no Brasil, nos anos 70 eram comuns muitos quadros de música portuguesa, havia inclusive programas dirigidos a colônia na grande mídia. E o grande ícone desses imigrantes no Brasil era, exatamente, o Roberto Leal. Há duas décadas atrás, quando os saudosos Mamonas incluíram "Bate o pé" em uma paródia, homenageavam exatamente esse grande sucesso.
Lá nos anos 70, quando tinha menos que 10 anos, uma das coisas que mais ouvia era que eu era parecido com o Roberto Leal. Até meu penteado era parecido. E lógico que a família pedia para eu dançar o "vira", principalmente o grande hit "Bate o pé". E eu, na minha inocência típica de criança, e em meio de uma família tão calorosa e amorosa, como nunca fui exatamente tímido, não tinha como negar o pedido: e dançava, dava os pulinhos, e deixava a família sorrindo.
Quando fui fazer meu pós-doc em Portugal, já em 2009, ouvi dos "professores doutores" de lá que Roberto Leal era ridicularizado porque cantava músicas simplórias, pois era considerado por eles algo como o "brega" daqui. E, sinceramente, ao ouvir isso, tive ainda mais orgulho da minha origem e passei a admirar ainda mais o Roberto Leal. Pois o Roberto não queria posar de cult, fazer músicas elaboradas: ele sabia que a missão dele era matar as saudades dos portugueses pobres que tiveram que imigrar para o Brasil. Roberto Leal não cantava para os ricos de Lisboa; cantava sim para os pobres que imigraram sem nada, vindos do interior, como meus familiares lá de Trás-os-montes, de onde veio também Roberto Leal. E foi por isso que estourou no Brasil de imigrantes simples portugueses.
Bom, infelizmente o Roberto Leal nos deixou no dia 15/09/2019. Quem tem menos de 30, talvez não tenha a dimensão da importância que esse cantor teve nos anos 70. E, principalmente, de quanta felicidade ele trouxe para essa imensa massa de imigrantes portugueses.
Obrigado, Roberto Leal, por tudo que fez para a colônia portuguesa e seus descendentes como eu!
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