O carnaval dos anos 50 e 60 - alegria, inocência, marchinhas e o grande Grande Otelo
As marchinhas de carnaval são e sempre serão parte da cultura do nosso país. Chiquita Bacana, coitado do jacaré, será que o Zezé é? As águas vão rolar, mas cachaça não é água, Aurora! Maria sapatão, dá a chupeta pro bebê não chorar... Quem é que não consegue cantar a música inteira, só com as poucas palavras que citei à pouco? Esta é a maravilha das marchinhas, simples, fáceis, alegres e inesquecíveis. E todos os brasileiros, sempre terão uma história ligada às marchinhas: a jardineira, do vídeo acima, sempre irá me lembrar quem me ensinou esta e muitas outras, meu saudoso avô Renato, um senhor muito trabalhador e com moral irretocável que a-ma-va o carnaval!
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Joãozinho no histórico desfile com o Cristo coberto |
Quem, ainda hoje, não lembra de sambas-enredo com frases como"BUM BUM PATICUMBUM PRUGURUNDUM" (1982), "Mangueira é" (1983) e tantos outros dos anos 80? Era uma época que mesmo as rádios jovens, em época de carnaval, tocavam os melhores samba-enredo. Não é papo de velho querendo dizer "que no meu tempo tudo era melhor", mas é fato que há muito tempo os sambas-enredos deixaram de ser tão marcantes. Na verdade, o carnaval está deixando de ser tão marcante. E muito por causa do excesso de profissionalismo das escolas de samba, com dinheiro demais, que deixaram de lado a paixão da comunidade e passaram a visar a vitória e os dólares dos turistas, que participam do desfile sem sambar nem cantar... O carnaval está virando uma coisa "para inglês ver".
Vejo com muita tristeza que entre os jovens com os quais convivo, a imensa maioria "não gosta de carnaval". Eu, que era um menino quadrado e tímido, brincava de bisnagas na rua desde pequeno, "pulei" matinês ao longo da minha infância (em clubes como Atlético Santista, Portuguesa e Portuários) e sambei a noite inteira no ano em que entrei na faculdade, celebrando minha primeira noite de carnaval e a chegada à UNICAMP, onde dei meu primeiro beijo no "amor de carnaval" Catia RC" (sim, lembro o nome completo da menina até hoje, com a qual dancei horas e troquei aquele beijo único e inesquecível). Desde então não tive oportunidade de voltar a um salão e sambar, e sei que o carnaval de salão está até se extinguindo, o que é uma pena, pois era uma coisa tipicamente paulista...
Me assusta ver iniciativas como "carnaval sertanejo", "carna-funk", entre outros, que distorcem o carnaval e suas tradições. Também não entendo comentários como "eu gosto é de rock", como se fosse impossível alguém gostar de dois ritmos igualmente marcantes e com base em raízes negras. Amar o carnaval é amar o Brasil e isso não é ruim, apesar daqueles nossos pseudo-intelectuais terem uma visão diferente (vide aqui).
Não há nada mais característico da cultura nacional que o samba e o carnaval e todos deveriam se deixar levar por esse ritmo único e essa arte só nossa. Ok, o carnaval das escolas de samba perdeu a graça, se pasteurizou, profissionalizado em excesso, mas o verdadeiro espírito de carnaval ainda vive nos blocos de rua que voltam a animar a todos, depois de um período em que quase sumiram. E para quem gosta de agitos "maiores", também temos os carnavais de Axé da Bahia e de frevo em Pernambuco, outros genuínos espetáculos brasileiros.
Brasileiros, orgulhem-se pelos nossos carnavais, pela nossa cultura única, pelo nosso ritmo maior. E divirtam-se neste carnaval, com pelo menos um pouco de samba e de brasilidade. Se você tirar o preconceito de lado e se deixar levar, não há como não ficar feliz ouvindo um samba-enredo de primeira ou marchinhas de carnaval.
Bom carnaval, muita alegria e muito samba para todos!
E para os santistas, uma doce memória, dos bons tempos do nosso carnaval
União Imperial - Enredo 1986:"assim Diz o Poeta"
Hoje vou entrar nessa avenidaDe verde e rosa ninguém vai me segurar
E nesse embalo quero esquecer da vida
Vou colocar poesia no ar
(vide o resto neste link)
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