sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Belo filme: rude, drogado e genial Sebastião

Sebastião não era uma pessoa do bem. Longe de ser...  Nasceu pobre, tornou-se uma pessoa amarga. Mas como a vida não é um conto de fadas com princesas doces, generosas e educadas de um lado e bruxas feias e más do outro, Sebastião tinha dentro de si o amargor, a tristeza e a genialidade.
Sebastião usou e abusou das drogas ao longo da vida. Sebastião usou e desrespeitou pessoas por toda a vida. Mas Sebastião perdoou, amou, foi muito gente também. Sebastião, embaixo de uma carcaça dura, de sua "pele de rinoceronte", temia perder todos que amava, temia perder seus amigos. E talvez tenha sido esse temor que o fez se entregar às drogas que acabaram o levando a morte tão precocemente. Mas, quem sabe, talvez tenha sido justamente esse temor que tenha sido o motor de sua imensa criatividade e genialidade musical.
Sebastião não era uma pessoa que eu admiraria. Não como gente. Tratava mal os outros, tratava mal seu corpo, era rude, drogado, desonesto, irresponsável. Mas eu não tenho como não admirar o outro lado do Sebastião: sem dúvida, um dos maiores autores e cantores que este país já teve em toda a sua história musical. Pois Sebastião, que era o líder dos The Sputiniks, da banda que tinha Roberto e Erasmo Carlos como parceiros lá nos anos 50, não pode se tornar Tião e acabou virando Tim, Tim Maia. O Tim Maia de Você, aquela música incrível que todo mundo canta na ordem do Paralamas sem perceber que as estrofes foram trocadas de posição pelo Herbet. O Tim Maia de "Chocolate", de "Vale Tudo" e de tantas outras músicas que se tornaram sinônimo da música pop de qualidade brasileira da segunda metade do século vinte e hoje viraram hinos da nossa grande cultura.
Assisti ao filme Tim Maia hoje. E o filme está magnífico. Não tenta mostrar um Tim falso. Mostra o Tim com todas suas dificuldades, suas grosserias, suas loucuras, sua irresponsabilidade  e sua arrogância peculiar. Mas também o Tim espirituoso, o Tim direto, franco, duro mas sincero, deliciosamente não politicamente correto. O filme narra uma história que beira o trágico de forma leve, em alguns momentos até bem engraçada, mas sem querer deixar de falar a verdade. É um filme imperdível para quem gosta de boa música e quem gosta da cultura misturada do nosso país. E ainda vale pela história, por conhecer o começo de Roberto, Erasmo e tantos músicos que apareceram em um mesmo local, em uma mesma época.
Tim Maia deixou muitas saudades. E sua história, de alguém sofrido e humilde, que chegou ao topo do sucesso mas nunca achou a felicidade lembra muito a vida de outro grande ícone da música brasileira, muito bem retratado em outro filme imperdível: Luiz  Gonzaga.


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