quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bom programa: TV Viva e Roque Santeiro

A Rede Globo já foi muito diferente. No final dos anos 70 e início dos anos 80 a Globo tinha o que ela auto-denominava padrão Globo de qualidade. Era um padrão que a impedia de fazer coisas apelativas e bregas. Era uma TV de primeiríssima. Não vou falar uma TV de primeiro mundo, porque tem muita porcaria no primeiro mundo... Era muito boa mesmo.
A Globo já fez coisas incríveis, que revolucionaram a TV brasileira. Coisas para jovens, mas não futilidades como a Malhação: coisas diferentes, criativas. Um exemplo é a TV Pirata, um dos melhores programa humorísticos que a TV brasileira já teve, um programa que congregava a irreverência das piadas e texto da turma do Casseta, com atores de primeira. Outro era a série Armação Ilimitada, jovem, surreal, louca e inteligente. Ambos podem ser vistos hoje no canal Viva, canal que passa programas históricos da Globo e que se tornou uma grande opção à própria.
No mês que vem o Viva começa a passar Roque Santeiro. Roque Santeiro é a melhor novela que esse país já teve. Inicialmente projetada para os anos 70, foi censurada pelo regime militar, por ser claramente crítica ao governo. Seu autor, o fantástico Dias Gomes, criou então uma série, O Bem Amado, série que dá muitas saudades. Foi inspirado nessa série que foi feito o filme do ano passado, que merecia mais sucesso do que teve nos cinemas. Mas Dias Gomes, em meados dos anos 80, com o fim da censura, conseguiu enfim lançar Roque Santeiro. Roque Santeiro tem tudo o que uma boa novela tem que ter: a disputa de uma mocinha por dois, intrigas, personagens dramáticos, personagens cômicos. Mas tem muito mais. Tem uma crítica social mordaz, aos coronéis (que infelizmente ainda mandam no país), aos políticos corruptos e ao falso moralismo. Tem uma mocinha que nem é mocinha nem santa, a deliciosa Viúva Porcina, a "que era sem nunca ter sido", em atuação primorosa da Regina Duarte. E seus dois amados, o impagável coronel Sinhosinho Malta (quem tem mais que 30 certamente lembra da chacoalhada de pulseira e da frase "Tô certo ou tô errado") e do próprio "morto" Roque Santeiro. Você deve estar se perguntando se eu vou assumir que sou noveleiro com este texto: nem sim, nem não. Hoje, com os filhos, é impossível ver novelas. Mas mesmo quando tinha tempo, pouco assistia, pois não gosto de coisas dramática e "mexicanas" como a maioria das novelas é. Mas tem novelas clássicas, e estas assisti sim e não tenho por que negar isso: isso não me faz menos inteligente, nem menos homem. Em especial, Roque Santeiro, que passou quando eu tinha 16 anos, e colocava-se perfeitamente na época como crítica à ditadura militar que tinha acabado naqueles tempos... Esta eu assisti e, quando comecei a ter aulas a noite, cheguei ao cúmulo de gravar capítulos para assistir no dia seguinte... Eu amava a Porcina, aquela mulher alegre, linda, extravagante e cheia de defeitos que uma mulher real tem.
Para quem tem tempo e quer ver o que é uma novela de verdade, não perca o canal Viva. E aproveitem também para ver as outras pérolas desse canal e conhecer (ou lembrar) o que era a TV há algumas décadas atrás. Divirtam-se!

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