terça-feira, 3 de abril de 2012

Um país com menos sorrisos

Tavares: personagem inesquecível
e também meu primeiro automóvel
Semana passada nos deixou menos sorridentes. Foi uma semana muito triste, graças à duas pessoas que sempre trabalharam para nos fazer sorrir.
O Chico Anysio morreu. Não vou ser cínico aqui e falar que eu era fã incondicional dele. Não, não era. Na minha infância e adolescência, sempre preferi o "Viva o Gordo", humorístico do Jô, que os programas do Chico. Mas nunca deixei de assistir o Chico Anisio Show e o Chico City, muito antes de entender o que seria City. O Chico é alguém que sempre esteve presente na minha vida, com seus personagens, seus bordões.
Bento Carneiro: uma crítica
à falta de amor próprio do brasile
O meu primeiro carro era um fusquinha com dois carburadores à álcool, que fazia 4 km/h: isso mesmo, 4! Não a toa seu apelido era Tavares, o eterno bêbado do Chico, que só dividia o amor à bebida com a Bixxcoitu, sua namorada.
Salomé e seus papos com Brasília
E também sempre achei interessantes os personagens Justo Veríssimo, um político corrupto lá da década de 70 onde aparentemente todos os políticos atuais se inspiraram. E tinha o Tim Tones, um "bispo" que lembra muito alguns líderes de igrejas atuais (para os mais jovens, o nome é inspirado em Jim Jones, pastor que convenceu quase mil americanos a se suicidar no fim dos anos 70). E o Bento Carneiro, vampiro brasileiro, bordão que está na boca do povo até hoje.  Nunca vou me esquecer do afff do Painho e nem dos belos pensamentos do Profeta. E tinha a Salomé, personagem tão bem sacado, que ficava lá no telefone falando sobre política, que até o Didi, humorista máximo na minha opinião, foi imitar.

Mas indo contra a corrente, o que eu mais admirei no Chico foi o professor Raimundo. Por ser um humor simples, popular, com a cara do Brasil, mas sem baixarias, algo para a família. O professor Raimundo era aquele programa que sempre víamos, nunca achávamos maravilhoso, mas nunca achávamos insuportável, ano após ano.
Esse professor vai deixar saudades
E lá encontrávamos os velhos humoristas, tão talentosos e tão esquecidos: ajudar quem estava precisando sempre foi uma característica do Chico. Na escolinha de tantos bordões para mim o Chico se encontrou: sem a necessidade de fazer muitos papéis, mas fazendo o seu papel maior: de líder do humorismo nacional.
Chico também sempre será lembrado por mim como alguém de coragem. Quando ele teve coragem de casar com a Zélia Cardoso, a ministra mais poderosa do Collor, que confiscou o dinheiro do povo, criou uma política que foi um fiasco e que estava sendo ridicularizada publicamente por receber torpedos amorosos que exaltavam sua beleza (inexistente) em reuniões ministeriais, Chico mostrou que não fazia as coisas para ficar "bem na fita", o que para mim é uma grande qualidade.

E se perder o Chico já marcaria a semana passada com menos sorrisos, ainda fomos perder Millor. Millor era humorísticamente o oposto do popular e simples Chico: tinha um humor refinado, inteligente. Um humor típico daqueles que resistiram à época da ditadura. Millor era um gênio, um artista completo, culto como só os homens que nasceram na primeira metade do século XX eram, falando francês e inglês, lendo centenas de livros, coisa que a minha geração nunca teve como acompanhar, pois tinha muita TV, games, e outras inutilidades... Millor desenhava, escrevia, pensava e fazia pensar. Millor já está deixando muitas saudades... Em uma passagem lembrada com carinho em um programa, um amigo contou que Millor não era piadista, era sério, até tímido, mas tinha uma inteligência e sacadas únicas. E na era militar, quando um general o abordou e pediu para ele contar uma piada, a resposta dele foi: "eu conto uma piada se o senhor der um tiro de canhão". Queria muito ter estado lá nesse momento para ver a cara de idiota do milico ao ser tripudiado assim por alguém que tinha um cérebro tão mais desenvolvido.
Estar com 40 anos é uma idade complexa. Se a minha geração e a dos meus pais ainda está "curtindo a vida", é muito triste saber que aqueles ídolos que eu acompanhei por tanto tempo, desde a infância, não estão mais por aqui. Não é nada legal pensar que nunca mais me farão rir: Dercy, Costinha, Grande Otelo, Chico, Glauco, Millor, Nair Belo, Rogério Cardoso (Rolando Lero e Epitáfio) e o Brandão Filho (primo pobre e Sandoval Quaresma, que também sempre me lembrou meu avô, outro que deixou saudades). Isso sem falar nos únicos Mussum e Zacarias... É, vai ser difícil sorrir tanto como antes...

PS. Na lista dos humoristas que dão saudades, faltou um humorista único, mítico. O Shrek encarnado, tão igual que foi até quem dublou os primeiros. Um humorista da minha geração, escrachado, debochado, o grande destaque do Casseta&Planeta: Bussunda!


Veja também outros que deixaram saudades:
Mário Lago: Um homem extraordinário!
O melhor presidente (Itamar Franco)
Um grande líder (Paulo Renato)
Um exemplo de pessoa (José Alencar)
Um talento único e uma grande vítima! (Michael Jackson)
Trapalhões na luta contra a ditadura
Queen

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