quarta-feira, 27 de março de 2013

Um nordestino, um favelado e uma história de amor: Gonzaga

O diretor Breno Silveira já fez um filme que eu odiei: "2 filhos de Francisco". Não consigo aceitar um filme que retrata um pai que acha que os filhos pequenos tenham que se expor à riscos (e até à morte), só porque ele quer que eles sejam famosos. Odiei o filme porque é um péssimo exemplo que foi visto por milhões e pode ter vendido uma ideia errada do que é ser um bom pai.
Mas Breno Silveira se redimiu. Dirigiu uma outra história biográfica. Uma história de dois personagens fantásticos da nossa música. Luiz Gonzaga, o rei do baião e Gonzaguinha, seu filho.
Um filme lindo sobre música e amor entre pai e filho
Cada um dos personagens já merecia uma trilogia só para si. Gonzagão, o pai, que nasceu pobre, foi discriminado quando morava lá no sertão do nordeste e, depois de muito ralar, conseguiu sucesso nacional. Gonzagão que teve uma vida cheia de dramas, dificuldades, mas que nunca deixou sua simplicidade e nunca deixou de cantar com prazer. Musicalmente, sou fã do Gonzagão: ele trouxe para o resto do Brasil toda a riqueza da música de raiz do nordeste. E não tem como não amar "Asa Branca" e outros clássicos que ele tão bem entoava com sua sanfona.
Gonzaguinha nasceu e cresceu em uma favela carioca, em meio ao crime e ao samba. Teve uma vida complicada desde criança, pois perdeu a mãe com dois anos e tinha um pai que sempre estava em turnê pelo Brasil. Sofreu, se sentiu rejeitado, chorou. Mas conseguiu transformar essa dor em poesia, poesia de primeiríssimo nível. Eu mesmo posso dizer que uma das músicas que mais gosto, até hoje, é "O que é, o que é":
"viver, e não ter a vergonha de ser feliz;
cantar, e cantar e cantar, a beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita"



O filme é de uma beleza incrível. Tem atores excelentes: o que faz o Gonzagão é sanfoneiro de verdade e tem estilo e carisma compatíveis com quem quer retratar; e o que faz o Gonzaguinha é tão parecido em tudo que até assusta, parecendo o próprio ressucitado. É um filme que mostra a vida como ela é, sem querer pintar ninguém como mocinho, nem como vilão. Mostra como a vida pode ser dura para todos, como nós, humanos, conseguimos ser complicados. Acima de tudo, o filme fala da relação entre pai e filho, um pai simples, humilde, que sempre viu como sua maior obrigação "não deixar faltar nada para seu filho" e um filho que sempre esperou um pai Gelol: "não basta ser pai, tem que participar". É um conflito de gerações, uma mudança de visão de mundo, onde não há verdade, não há certo nem errado.
Enfim, é uma obra-prima recente, que passou primeiro como mini-série na Globo e há pouco foi lançada em DVD. Vale pela história, vale pela excelente música que pontua todo o filme e vale pela sensibilidade em mostrar uma relação entre pai e filho onde amor e conflito habitam os mesmos corações.

Dominguinhos: outro músico que vai deixar saudades
PS. Vale ressaltar que o grande sucessor do Gonzagão também está prestes a nos deixar: segundo a própria família, Dominguinhos está em coma irreversível. Será outra perda gigante da música brasileira, tão carente de músicos desse gabarito nos últimos tempos.
PS2. Dominguinhos faleceu em 23/07/2013: mais um brasileiro que vai deixar muitas saudades em quem gosta do país e de música de verdade. 

Outros bons programas:
Gandhi: um filme incrível sobre uma pessoa extraordinária
O novo cinema brasileiro (com O homem do futuro) e o Jabor
Roque Santeiro
A "boa" da terça
O Silvio Santos é coisa nossa!
Eu gosto do Faustão!
Senna
O discurso do rei
A rede social
Rio
Up
Trapalhões na luta contra a ditadura

Nenhum comentário:

Postar um comentário