Uma das primeiras repúblicas formadas na moradia foi "Amordidona", a última do bloco A, em frente à indústria e ao lado da sala de estudos. Foi umas das primeiras porque já estava habitada nas férias, pois eu estagiava e mudei assim que possível. Era uma república de nerds: dois nerds de engenharia química e dois nerds de engenharia de computação. Não era uma república bagunçada, como uma república de quatro rapazes pode sugerir: estava sempre limpa e muito bem organizada. Também era bem montada, uma das primeiras a ter uma TV (que funcionava com bombril na antena). E era uma turma nerd mesmo, sempre estudando muito: só comíamos mais que estudávamos! Eu e meu colega mais comilão de EQ fazíamos um pacote de meio quilo de macarrão com molho de tomate natural e enriquecido com sardinha ou salsicha ou outra coisa barata e nós dois dávamos cabo de tudo em uma noite. E naquela época eu pesava 30kg a menos que hoje: inexplicável!
Amordidona tinha algumas tradições. Uma delas eram as "violadas", onde muitos se reuniam na sala para cantar músicas, em especial rocks dos anos 80 e MPBs, acompanhados pelo muito bem tocado violão do Assis... Eram festas super-in, só para os amigos. E maravilhosas. Até hoje penso em voltar a agendar de vez em quando, uma dessas...
Mas as coisas cresceram... Vieram os colegas de turma e era clássico que dois japas sempre bebiam demais e ficavam se equilibrando no murinho do segundo andar das salas de estudos, para meu desespero (tenho terror a altura e só imaginava eles caindo de lá). Em uma das festas mais "animadas" que organizamos, no meio da madrugada uma turma resolveu fazer uma corrida de cuecas no entorno da moradia e um dos comp88 voltou com uma calcinha, roubada de algum varal, na cabeça: inesquecível!
Mas a mais histórica, sem dúvida, ocorreu em um meio de ano: naquele momento resolvemos organizar uma festa grande, uma festa junina. Tinha fogueira na rua, a casa estava decorada com balões e fizemos um caldeirão de vinho quente. A festa rolava solta quando eu - tenho que assumir isso, fui eu - vi que um guardinha da portaria estava ali por perto e ofereci vinho quente. Bom, eu ofereci e fui embora, mas depois vim saber que o distinto, depois do primeiro, não parou mais até ficar trêbado, encostado na janela da cozinha da casa sem soltar o copo um único instante.
E foi trêbado que ele viu "invasores" entrando na moradia, tirou a arma e atirou bem no meio da fogueira, no momento cercada de pessoas da festa. E, instantaneamente, uma centena de pessoas correu em pânico, a maioria para dentro da república, uns 30 dentro do banheiro que tinha uns 4m2 no máximo! Eu era um deles...
Nesse momento, meu colega "batatinha" mostrou que era o real "macho" da turma e mesmo com seus 1,5m saiu da casa, se aproximou do guarda, conversou com ele e em uma ação rápida, o imobilizou e tirou a arma da mão. E a arma acabou lá no banheiro conosco: desmontamos a arma nos menores pedaços possíveis e a escondemos...
Sinceramente, não lembro dos detalhes finais: se a polícia foi chamada, quem levou o guardinha embora e como a arma foi devolvida. Mas lembro que depois dessa famosa festa a Unicamp proibiu que os guardinhas usassem armas por muito tempo!
Sem dúvida, essa foi a passagem mais "histórica" da minha juventude: imaginar que a lendária "festa do tiro" foi organizada por aqueles quatro nerds, um deles eu, é quase-inacreditável... Mas, acreditem, foi! E muitos que lerem este texto estavam lá e podem confirmar!
PS. um colega presente na festa complementou o que eu havia esquecido: "ninguém sabia direito o que fazer com a arma. Eu ajudei a descarregar o revólver e ele foi guardado num lugar, os cartuchos em outro. Logo depois apareceram mais dois seguranças, um dos quais parecia ser um supervisor do que atirou. Foi ele quem levou o atirador e a arma embora." (by Fernando)
Veja também outros textos da série Dinocamp:
Dinocamp: a moradia estudantil
UAP
Marketing
Vestibular
de volta ao 3.60
Não foi nesta mesma festa que alguém jogou um pedaço de pão dentro do filtro/talha de água, onde ele ficou fermentando por dias, antes de ser descoberto pelo gosto ruim (da água, claro)?
ResponderExcluirAcho que foi, Bacelar... E eu tomei muito daquela água :-(
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