sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

DinoCamp: o vestibular

O clima era mágico para quem vivia a juventude no final dos anos 80: o país saía da ditadura, tínhamos talvez o melhor congresso que esse país já escolheu (os senadores de SP eram FHC, Covas e Suplicy, só para dar um exemplo), tínhamos governadores eleitos, um novo mundo se desenhava à nossa frente: um sonho de um país democrático, livre e de futuro.
E foi exatamente nesse momento que o visionário Paulo Renato, nosso eterno reitor, lançou um slogan extremamente sedutor para aquela juventude : não queremos alunos bitolados, que decoram fórmulas e são treinados para fazer testes. Queremos alunos com capacidade de analisar e escrever, alunos críticos, que conseguem integrar seus conhecimentos em provas bem elaboradas que exigem visão abrangente. Naquele momento a Unicamp deixava a Fuvest e criava o seu próprio vestibular, que revolucionou o país, e exigiu mudanças profundas nas escolas e cursinhos que preparavam os alunos para os antigos vestibulares....
Para alguém da minha geração, era um apelo fantástico. E entrar na Unicamp deixava de ser apenas entrar em uma ótima universidade, mas também uma prova que não eramos um bando de nerds alienados, tínhamos atitude diferente, pessoas críticas, que gostavam e tinham capacidade de discutir. Foi em uma reunião da minha turma com a liderança do vestibular no ano de 88 que nos foi indicado que pesquisas comprovavam o perfil mais dinâmico e crítico dos alunos que entravam naquele novo vestibular.
Mas há um ano, novamente, a Unicamp tomou a decisão errada. E destruiu mais uma conquista do Paulo Renato. Desde o vestibular deste ano, o vestibular passou a ser na primeira fase, novamente, teste de múltipla escolha. O argumento é que o vestibular antigo era "caro" de se corrigir. Eu e um pequeno grupo de professores fomos contra, porque acreditamos que aquele vestibular era a cara da Unicamp e também selecionava alunos com o perfil que gostamos. Além disso, acreditamos que há muita gordura para cortar em áreas muito menos nobres que a seleção dos futuros alunos. Mas infelizmente fomos vencidos pela visão burocrática e curta dos "gestores" atuais da nossa universidade. Que certamente continuará a ter alunos brilhantes, mas talvez sem aquele diferencial de postura crítica e capacidade de argumentação que tínham os alunos até agora.

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