terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Dinocamp: a moradia estudantil

A Unicamp não teve moradia estudantil até o ano de 90. Antes disso, só um bando de politiqueiros, daqueles bancados por partidos para o diretório central dos estudantes (vide aqui um post sobre isso), tinham invadido uma parte do ciclo básico, no que chamavam de Taba.
Em janeiro de 90, o Paulo Renato - tinha que ser ele - inaugurou a moradia. Inicialmente só o primeiro bloco. E eu estava lá na inauguração, eu que fui um dos primeiros moradores daquele lugar único, onde a experiência universitária atinge grau máximo.
A inauguração foi "interessante": reitor e políticos, todos orgulhosos, apresentando a "casa" para uma imprensa interessadíssima. Mas apresentando só a primeira casa do bloco A, que estava, acreditem, toda decorada com móveis, lustres e tudo mais, da Tok & Stok, "super-chiques". Estava linda, é fato. Mas era algo totalmente falso, algo só para a inauguração, algo que não existia em mais nenhuma casa. Irritado, eu mesmo mostrei o absurdo que era aquela casa "fantasia" para a imprensa, que se surpreendeu ao eu dizer, e ao ver ser verdade, que as outras casas estavam totalmente diferentes. Não sei se isso acabou publicado, mas eu fiz questão de denunciar...
Bom, mas as casas, mesmo sem móveis da Tok&Stok são muito boas: um quarto confortável para quatro, uma sala gigante, cozinha com geladeira e fogão conjugados e banheiro. Os móveis - camas e mesa da sala - são simples, mas de ótima qualidade, muito robustos. Não há o que reclamar. E eu adorei poder morar 3 anos lá, ainda mais porque não tinha como continuar bancando, com meu estágio de 20h, um ap no centro e o ônibus diário - na época não havia muitas opções em Barão Geraldo.
As casas eram numeradas aleatoriamente: acho que foram pessoas analfabetas que pregaram as placas, não é possível. Os números eram sem sentido, em ordem inexplicável. Coisas que só acontecem na Unicamp...
A moradia em obras: saudades desse tempo!
Quando a moradia começou, não tinha ônibus da Unicamp até lá - o que acho um luxo até exagerado. Nós fazíamos o trajeto de 3km entre a moradia e a Unicamp a pé, e era ótimo: para a saúde e para as amizades. Era um tempo que aproveitávamos para conversar e colocar todas as fofocas em dia. Eu e meu grande amigo de Limeira, por exemplo, usávamos para um eterno desafio de quem lembrava mais músicas bregas e íamos lá cantarolando "clássicos" do Waldick Soriano, Biafra, etc... Que tempo ótimo!
Junto com as turmas indo e voltando o "Chico", o cachorro estudante: ele saía conosco de manhã da moradia até a Unicamp, assistia as aulas de manhã no básico, "almoçava" no bandejão, dormia, como nós, nas aulas da tarde, "jantava" no bandejão e voltava à noite para a moradia, onde dormia. Sim, ele era um perfeito estudante! Diz a lenda que ele se "formou" e foi fazer intercâmbio no exterior :-)
Já no terceiro ano da moradia, juntando cada trocado do estágio e comendo só no bandejão, consegui comprar um fusca caindo aos pedaços. E fui ameaçado por alguns moradores de ser despejado porque era "rico": é, acho que fui o primeiro "motorizado" da moradia. Pouco depois, carros zero, "presentinhos" de pais, começaram a popular aquilo que deveria ser um reduto dos mais humildes alunos.  
Ainda em 90, os ex-habitantes da Taba, tentaram "emplacar" um critério "político" para a seleção dos moradores. Isso mesmo, critério "político". Segundo eles, quem "lutou" pela moradia, deveria ter preferência. Ou seja, eles achavam que aqueles "estudantes profissionais", que já estavam há uns 10 anos na Unicamp apenas para fazer política partidária, tinham mais direito de ter uma moradia gratuita que um estudante humilde que não teria como se sustentar em Campinas de outra forma. Ainda bem que isso não foi aceito. E, posteriormente, o SAE - orgão de apoio aos estudantes da universidade - acabou assumindo a seleção, o que achei ótimo, pois tirou a possibilidade desses politiquinhos de quinta categoria usarem a moradia para se promover.
A moradia foi inaugurada pouco a pouco: primeiro o bloco A, onde eu estava, e aí os outros. Antes de eu me formar, alguns anos depois, já estava com as mil vagas disponíveis, sem dúvida um contingente de vagas mais que suficiente para atender a todos que realmente precisam. É mais um belo serviço que a universidade faz pela distribuição de renda, aumentando as oportunidades de pessoas humildes conseguirem mudar de vida. E eu convivia, naquele bloco A, com muitas pessoas bem humildes e fantásticas, pessoas das quais tenho muitas saudades.
Da moradia e daquele bloco A inicial ainda há muitas outras histórias interessantíssimas, como a "festa do tiro", o "trote no bixo", a "festa do contrário", o "causo do auto-elétrico", etc. Mas o post iria ficar grande demais, então deixo para um próximo.
O que posso dizer, com certeza, é que foram 3 anos inesquecíveis da minha vida. E, diferentemente da visão dos habitantes de Barão, aquilo lá está bem longe de ser uma depravação geral à la Porky´s. Nunca consegui focar tanto nos estudos como lá, convivendo em um "bairro" só de estudantes. Se haviam casas mais "agitadas", haviam muitas casas como "Amordidona", a minha, habitada por estudantes de engenharia sérios e interessados. Além disso, a experiência única de viver ao lado de tanta gente tão fantástica estará para sempre em minha memória.

Veja também:
- Dinocamp: UAP, Marketing e Vestibular
- Momento retrô: de volta ao 3.60
- O reitor Paulo Renato
- A nova política estudantil
- o vergonhoso movimento estudantil: 1, 2 e 3

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